domingo, 20 de dezembro de 2009

Dias de dezembro

Ela partiu em dias ensolarados de dezembro carregando consigo um pequeno ser. Ser que a partiu e levou de mim os belos olhos iluminados de luar.

Ela gritou durante a noite, quando as ilusões noturnas me atingiam, despertei com agulhas furando meus ouvidos, e olhei de lado a procura dos olhos de luar. Alvos e famintos pela salvação da dor que a golpeava. O vinho derramado em sedas brancas formava uma mórbida cena, qual eu nunca quisera presenciar, dedos tocavam sua pele em busca de cessar o vinho, eu gostava da cor, mas repelia o cheiro. Outras agulhas dessa vez mais grossas perfuraram minha audição, e quando dei por mim estava gritando, pedindo a Deus salvação. Brancos entraram no quarto manchando-se com o vinho escorrendo pela cama, fiquei de pé e acompanhei a procissão, sabendo que o corpo adorado era também meu corpo, minha alma também estava ali.
E com o nascer do sol, eu senti que a perdia, assim como a criança perde a mãe, assim como o drogado perde a droga, assim como a noite perde a lua, eu sabia que ela não voltaria isso era um suicídio involuntário.

E fim.

Minha audição falhou e não ouvi mais a música de seu coração. O vento lá fora também parou, e ela partiu em dias ensolarados de dezembro. Minha alma também se foi, então o relógio parou.
Olhei sua face, seus olhos cerrados, tão belos olhos, que agora estavam escondidos pela cortina que não haveria mais de abrir. Sua boca de outono, sua boca outono, seus olhos cobertos, sua boca de outono, sua boca de outono, seus olhos cobertos.

Esconderam o vinho, limparam o vinho da seda. Eu não queria me manter sóbrio, não agora, não agora, não antes, tampouco depois de o cadáver desaparecer.

Estão gritando lá fora, estão gritando cada vez mais alto. Eles colocaram terra sobre o seu corpo, mas eu não entendia o porquê. Era tão belo, por que esconder a beleza? Por quê? Estão gritando lá fora, e eu entrei na casa vazia, não tinha nem se quer minha sede.

Uma música cantou em meus ouvidos, era sua voz, eu tinha certeza, a música era ela. Então foi um pesadelo? Não conseguia acreditar, foi apenas um pesadelo, um forte pesadelo, ela estava ali do meu lado, tão linda e mágica, tão mágica e linda. Estão gritando lá fora, estão gritando lá fora, estão gritando lá fora, estão gritando lá fora. MANDE-OS CALAR A BOCA!
Ela então sorriu pra mim, e sua boca era de verão, como antigamente. Um ardor de felicidade me consumiu inteiro, mas eles ainda não calavam a boca.

Passaram-se noites, e dias, e ela ainda estava ali. Eles não paravam de gritar. Sentia uma dor em minha barriga, ela reclamava, mas o som da música era mais forte. Minha garganta gritava por algo, mas eu não sabia o que era.

Estão gritando lá fora, mas eu não consigo entender, mas eu sei que estão gritando lá fora. Estão sim, por que você finge que não escuta? Por quê? Mande-os calar a boca, eu vou sair lá fora, e vou mandar, estão gritando muito, eles não se cansam.
Abri a porta, era estranho sentir o vento e o sol tocarem minha pele, quanto tempo fiquei trancando em casa com ela, e o medo de perdê-la? A música continuava junto com os gritos.

Os gritos vinham do rio, subi até lá pra ver, eles vinham das águas profundas, frias e límpidas. Por que a água do rio gritava comigo?

Meus olhos olharam de lado, em um súbito ímpeto a vi, sorrindo para mim, meu coração mais uma vez inundou de uma felicidade eterna. E as vozes cessaram.

Ela fez as vozes cessarem, eu sei que ela fez.

Ela caminhou, vestida em uma linda seda branca, ela caminhou.
Meu coração parou de espanto, quando vi que seus passos não se dirigiam a mim, o que eu fiz de errado? O que eu fiz de errado?

Ela pulou no rio.

Eu tenho que salva-lá.

A água me cobria, raivosamente, eu não entendia o porquê. Meus olhos não avistavam seu corpo, não conseguia encontrá-la.

Minha garganta ardia, meu nariz, tudo em mim queimava fortemente.

Eu a vi no fundo do rio.
- Priscila Cavalcanti.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Ando descançando

Meu coração foi descansando, e ando, ando
Por aí, só por andar.
Meu coração foi parando ando, e ando
Sem ter ninguém pra olhar.

Minha vida foi paralisando
E os gritos aumentando
E eu nem aí pra notar
Apenas escutar, apenas escutar

O chão em baixo dos pés foi se alargando
O amor de frágil foi me parando
E eu estava querendo apenas andar.

Meus medos me atrapalhando
Meus orgulhos me questionando
E eu queria apenas gritar.

Minha vida foi se perdendo,
Meus sonhos desaparecendo,
O gerúndio teve que mudar.

Apenas pra dizer que está doendo,
Os valores me fazem recuar.
Apenas mandam jogar fora o tormento
E minha vida mudar.

Os verbos foram aumentando,
A tristeza se consumando,
E meu coração não voltou a andar.

E com um coração descansado
Não me importava ando ou ado
Eu queria apenas amar.

Faço epílogo de um amor,
E me ponho a chorar a dor.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A bela adormecida

Antes de você dormir querida,
Eu preciso te contar a verdade
Por mais sina que tenha nossa vida
Mais vida de sina chega à realidade.

Antes de você se iludir com flores, cartas, e sabor
Tenho que te falar querida, das historias de amor,
Contar a verdade destruirá teus sonhos
Cairá em pleno pranto, mas depois não me ouvirá.

Prefiro te dizer agora querida,
Agora enquanto pouco crescida
Historia de amor nunca existirá

Haverá um tempo em tua vida,
Que isso vão te contar
Ficarás feliz e iludida
Até do sonho acordar.

Prefiro te alertar agora,
Enquanto dormes tranquila
Com medo de meu olho fechar.

Historia de amor querida,
Nunca existirá.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O Pianista

Buscando no nada algo que me complete. Buscando na dor algo que me faça recuar, algo que eu possa sentir antes do vazio. O vazio é o que deixa tudo mais escuro, tão difícil de enxergar quando não se tem nada pra ver. E por mais que a beleza procurada esteja distante, é o que eu consigo. Isso é o que me vai fazer completa por alguns segundos.
E em cada letra, parece que a dor é passada para o papel, o toque de uma letra cai como a nota de um piano. Um pianista deve está de acordo com o ritmo, mas de nada vai valer se ele não mostrar para si o verdadeiro motivo de notas em seqüência.
Sonhos foram destruídos, paixões acabadas, os gritos de socorro na madrugada se desfez com a perda da ilusão. E tudo que eu buscava, em tudo que clamava, parece que se funde em nada então. Então peço que não me atormente, em busca de perfeição, é tudo que eu posso mostrar agora.
Tento pensar em destino, em sina, em algo previsto. Atormenta-me a idéia dos acasos, e me confunde a idéia de ter sua vida toda pronta antes de ser realmente entregue a você.
A nota escondida da melodia só pode ser apreciada da forma correta pelo pianista. No entanto ele apresenta sua canção para o publico aflito, esperançoso, poucos amigos. Eles estão prestes a criticar, pois não acharam a nota escondida. Eles não conseguiram ver a chave da canção, e se você souber, por favor... Não conte! Tudo que é misterioso nos leva a incansável busca pelo entendimento, nem que seja parcial da canção, assim ela é tocada mais vezes, assim o pianista pode se contentar ao pensar que pode curar além de suas próprias feridas, as feridas de quem ouvem a nota escondida.
E os sentimentos vão conforme a melodia, eles te tocam, assim como o pianista pressionou o piano e sua mente em busca do melhor léxico, da melhor nota.
Seu cobaia, seu coração!
Ninguém na verdade saberá o que estava escondido. Ele encerra a canção pensando em ter preenchido o vazio do momento anterior, enquanto isso sonhos e duvidas se misturam com a notas, seu ápice o sentimento, sua desilusão a sua 1ª leitura. O sangue da canção pronta, ainda escorre por entre seus dedos, e ele tenta não se prender a ele, mas manter a mesma linhagem, o mesmo tipo. Seu coração informa que é tempo de parar, seus dedos estão fatigados de notas repetitivas em busca de perfeição, agora o momento mais esperado, o publico pode está de ouvidos cansados, ou pode está atento pelo desfecho das notas, ele mantém mais um segredo, mais um mistério, e encerra por aqui a canção.

- Priscila Cavalcanti.

sábado, 10 de outubro de 2009

Sobre o nome

Quando eu gritei teu nome,
Em noite escura de solidão.
O silêncio zombou num estante
E o medo me levou a perturbação.

Quando gritaste o meu nome,
Em clichê de segundos, disse não.
Era só mais um sonho profundo,
Eram meros devaneios sujos,
Que perturbava a imaginação.

Declamei teu nome em um abismo,
Com medo de reivindicação.
Dessa vez sai no prejuízo,
Teu nome me esperava no portão.

E quando tomei a decisão,
E quando a luz se mostrou no escuro.
Contradições vieram com tudo
Fazendo-me esquecer a opinião.

União de nomes é faca no escuro,
Acendo a luz, e me encadeio com o clarão.

E agora, que pra longe fostes,
Apenas teu nome, tenho a lembrar.
O dono que rumo tomou,
Que o destino se encarregou,
É mais fácil não procurar.

Esqueço-te pra não sofrer,
Sofro por perder você.
Segundos clichês, sempre tento perder,
Mas sempre tem teu nome a lembrar,
Mas sempre tem teu nome a gritar.

- Priscila Cavalcanti.

domingo, 20 de setembro de 2009

Madrugada dos loucos

Salvem-se os loucos,
Deixe os normais viverem aos choros.
Loucos como somos, somos poucos
Poucos como somos, somos loucos.

Românticos assim, tarjados de loucos,
Que por tão pouco, abrem a boca e reclama do outro.
Noite escura os românticos na rua,
E olham apenas a lua,
E olham apenas a lua.

Românticos, loucos, poucos.
Acredito na lucidez, e raridade que tem os loucos.
Quando é noite de lua cheia, a menina desenha na areia
O rosto do outro, aos poucos, aos choros.

Choros, risos, alegrias
Quanta magia há na vida de um louco
Nome da pessoa amada em noite de bruxaria.
Gritam: BRUXO NÃO, APENAS BOBO!

Bobos, loucos, tolos, românticos e poucos.
Espero um desse para compartilhar magia.
Digo bruxa não, apenas alegria.
Mas prefiro um bruxo que use magia.

Bruxo que digo, não confunda com o mito.
Bruxo que falo apenas o homem amado.
Que em noite de lua nova coloquei seu nome amarrado
Em areia perto da lua, junto do velho sapato.

Românticos somos, e não perdemos a regalia.
Contemplamos a lua da noite, mesmo em plena luz do dia,
Nossas mentes são feitas de sonhos,
E sonhos são só utopias.

- Priscila Cavalcanti.

sábado, 12 de setembro de 2009

Ritual

Eu precisava de um tempo,
Eu precisava remoer o vento em busca do cheiro teu.
Eu precisava deixar claro o tormento,
Deixar pedra em firmamento,
E teu nome junto do meu.

Escrevi pra iemanjá,
Deixei os sentimentos nas ondas do mar,
Só pra ganhar o peito teu.

Fiz simpatia em fita vermelha,
Fiz azul na areia,
Virarem meu e teu.

Mexi com o céu, mexi com a terra.
Fiquei só na espera, de teu beijo encontrar o meu.

Olhei a lua na rua deserta
Usei até cultura celta
A lua não me atendeu.

Fui à igreja do pelourinho,
Rezei pra Antonio, rezei pra Augustinho.
O que será que aconteceu?

Pedi a Deus com muita fé,
Agora sim, vai da pé,
E nada me ocorreu.

O que me resta nessa hora
É esperar que um dia, ou agora.
Teu olhar encontre de novo o meu.

E a magia que eu gostava,
Nessa hora ficou calada,
A fita vermelha seu rompeu.

A boca tua ficou gelada,
Minha boca anestesiada,
Quando teus lábios estavam de fronte aos meus.

Obrigada, a fé danada.
Deixo a luz, deixo a morada.
Levo comigo os olhos teus.

- Priscila Cavalcanti.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Chico pra Maria

Não te preocupa Maria,
Não voltarei mais a te importunar.
Não te preocupa Maria,
Esse tolo já cansou de te incomodar.

Nem por isso Maria,
Digo que te deixo de amar.
Nem por isso Maria,
Meu amor diminuirá
Saberei te esperar.

Quem sabe assim Maria,
Quando caminhares até meu destino.
Poderás ver Maria,
Que é só amor o que sinto.

Peço-te de mãos atadas Maria,
Que não demores até encontrar meu destino.
Noite sombria, tempo de romaria,
Meu destino é junto de Maria.

Não te demores Maria,
A perceber que meu lado é o lado teu.
Não te demores Maria,
A cada segundo que passa
É um beijo que perco seu.

E quando eu cantar Maria,
Será como se tu cantasses também.
Meu canto é o canto de Maria,
O canto de Maria é meu também.

Caibo-me no canto de Maria,
Maria cabe no meu canto também.
Madrugada só, perco a poesia,
Mas não esquecerei o canto de Maria.

Não calarás a fuga Maria,
Os sentimentos de madrugada fria.
Não calarás a alma minha Maria,
Enquanto tua boca não calar a minha.

- Priscila Cavalcanti.

domingo, 6 de setembro de 2009

Balada sem abalar

Eu acreditava que tudo poderia ser diferente, e foi bem diferente da minha crença. Não acredito em pessoas perfeitas, mas acreditei que você tivesse um pouco mais de anos na mente. E acreditando no sonho, eu fui. E por acreditar no sonho, meu sonho se desfez. Se eu não tivesse um sonho, talvez não sonhasse tanto.
Agora o que me resta é esquecer, esquecer é isso que eu tenho feito ao longo da minha vida curta em materia física, eterna na mente.

- Priscila Cavalcanti

sábado, 29 de agosto de 2009

Perfuração

A certeza do nunca é o que mais que incomoda, ela fica cravada em meu peito e me impede de manter-me em pé, continuo sangrado nas esquinas, nos bares, nos livros, nos filmes... Tudo faz lembrar você.
Uma estaca perfurando o meu coração, sinto que a cada dia perco mais as forças sinto-me caindo sobre um abismo onde nunca saberei se foi lá que você caiu também.
E por mais que o tempo passe, e a pele queira expulsar a estaca cravada em meu peito, e cicatrizar o local , mais parece que ela não quer sair. Eu tento puxa - lá com minhas duas mãos, mais a dor é mais forte quando tento arranca – lá.
Não se compara ao pior veneno, não se compara ao maior medo, a dor de ter algo que pode te matar aos poucos entrelaçada em sua pele, em sua alma é muito forte.
Ela prefere matar lentamente, assim como você se foi. Encontro sempre com o seu olhar preso em uma fotografia, isso faz a estaca perfurar outro vazo sanguíneo no meu coração, se torna algo que a medicina não pode explicar, só os que passam ou passaram pelo que eu estou sentindo agora sabem na verdade o sentindo da palavra dor, e não apenas o seu conceito.
Você se foi tão cedo, eu tive medo de dizer adeus, e agora? Meu coração é esmagado pelas mãos da incerteza, a palavra ‘nunca’ ecoa em minha mente, parece que ela sabe dos meus pensamentos... E se ela souber? Que privacidade vou ter para pensar em ti sem que ninguém saiba?
O sol nunca se mostrou depois de tua partida, o tempo frio já consumiu todo o meu calor, e acaba se tornando impossível manter a temperatura normal do meu corpo, ela vai ficar em equilíbrio emocional com o ambiente externo, e te garanto que lá é muito mais escuro e frio do que aquele poço que nós caímos algumas vezes.
A morte é tão contraditória, é tão fácil morrer o corpo, e tão doloroso e complicado morrer a alma.
Sinto-me tão sozinha agora, onde você está? A estaca ousa a penetrar mais em meu coração, em poucos minutos eu estarei provando da sensação mais obscura que muitos preferem nunca provar. Digo minhas ultimas palavras, elas sussurram o seu nome, fecho os meus olhos, espero...

- Priscila Cavalcanti.

domingo, 16 de agosto de 2009

A complexidade do amor

E ela foi novamente atrás do seu sonho, e qual era? Qual o sonho de uma simples garota, vivendo uma simples vida, de uma simples família, amando um simples rapaz? Ter apenas uma simples felicidade.
Ao chegar lá, não foi o esperado, o simples era pouco, e o muito era impossível. A vida era muita, complexa, complicada, a felicidade estava repleta de prazeres até aquele instante por ela desconhecidos.
E ao ver sua pouca pessoa, em meio de muita gente, se sentiu logo retraída e confusa. O seu prazer era apenas cultivar o sol e lua com olhares entrelaçados de sonho, paixão, medo, e felicidade, mesmo que simples, mas ela tinha desejo de felicidade.
Os prazeres agora eram complexos e impossíveis ao ponto de ela juntar todos os seus poucos na esperança de um muito, e essa tentativa ser totalmente fracassada, vendo ao ponto que a simplicidade nunca entrara naquele mundo de muitos, mas que na verdade está repleto de poucos. Pouca gente, pouca esperança, pouco sonho, pouca vida, pouco sol, pouca lua, pouca felicidade, mas por sua vez estava repleto de muito, muito dinheiro, muito prazer, muito luxo, AA que pena não posso continuar errando tanto esse gênero assim.
Ela foi, andou, vagou, verbalizou, cantou, disse ao mundo o porquê de está ali, ninguém a escutou.
Então ela voltou sozinha pra o seu mundo de pouco, mas que na verdade para ela a simplicidade era tão complexa que se tornava fácil, e se resumia em apenas simples e poucos verbos: AMAR, SONHAR, LUTAR, AMAR!
O amor por mais complexo e simples que seja, acaba se tornando o mais simples substantivo, e o mais complexo verbo para se conjugar. Ela aprendeu a usar a complexidade na simplicidade, a resposta foi simples, complexa e imediata: FELICIDADE!

- Priscila Cavalcanti.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Dia branco

Ao encontrar uma folha de papel em branco, me sinto uma criança, com a cabeça cheia de idéias, o destino daquela folha está em minhas mãos... Isso pode parece tolice para alguns, mas para mim não. Não é apenas uma simples folha, mas sim o objeto que farei uso para despejar em limitado espaço um pouco do que se passa em minha mente.
E logo vem a primeira duvida: “o que eu devo fazer?” Um desenho talvez... Adoro desenhar dias de sol e castelos, aprendi um dia na escola e nunca mais esqueci.
Mas penso de novo, e lembro os inúmeros castelos e dias ensolarados que tenho guardados em minha gaveta, foi esse o destino que dei para algumas folhas, elas não são admiradas por ninguém, nem são de tamanha beleza como as obras de Michelangelo, porém noto que elas são felizes, preenchi todo o espaço que elas tinham com amor, verdade, inocência, e amor mais uma vez... Amor nunca pode faltar ao escolher o grandioso destino de uma folha... Isso basta!
Tudo começa em uma folha em branco, a construção de um grande prédio, os belíssimos textos de inúmeros autores, os roteiros de filme, um ‘eu te amo’ de um filho para um mãe quando aprende a escrever, uma carta de alguém que mora longe e deseja amenizar a saudade da outra pessoa que a espera... A, são tantas as coisas das mais simples as mais complexas.
Uma folha de papel com o destino certo pode levar uma pessoa a diferentes lugares do mundo e da mente, pode ferir sentimentos, exaltar o amor, tocar o coração, se tornar uma canção, trazer sorrisos, lagrimas, esperanças... Que poder magnífico tem uma folha de papel...
Tem gente que a procura já tendo em mente o que vai fazer, tem gente que a encontra e daí decidi o que vai fazer, tem gente joga no lixo e perde a oportunidade de entender um pouco sua mente, seus pensamentos. E como se não bastasse ainda dizem a frase: ‘não tenho tempo para uma simples folha de papel em branco. ’ Não ter tempo para si é algo meio contraditório.
Hoje eu escolhi uma simples folha em branco, não queria uma folha perfeita, pois teria medo de errar... Então ela continuaria em branco, pois não teria coragem de cometer erros em uma folha perfeita.
Já em uma folha em branco mais simples, não teria medo de borrá-la, pois quando isso acontecesse lembraria da borracha esquecida em cima da mesa, apagaria tudo que não me fizesse bem, mesmo que ainda ficasse borrões eu saberia que foram eles quem me ajudaram a tornar o destino da folha mais bonito.
E um dia eu acabei descobrindo que eu poderia fazer a mesma coisa que eu faço com as folhas em branco em dias da minha vida.
Cada dia está pronto para ser desenhado do jeito que você quiser. Você tem um dia limpo, em branco, e cabe a você escolher o que fazer com ele. Pense bem, antes de escolher o destino de cada dia, você pode apagar aquilo que não te faz bem, aproveitar a folha e começar de novo.
Não jogue o dia fora fazendo aquilo que não te satisfaz, que não faz de você uma pessoa melhor.
São inúmeras as semelhanças entre o papel rabiscado com letras tortas, escrito um ‘eu te amo’, e o mais belo poema de Shakespeare . Todos eles começaram em uma simples folha de papel, e neles foram depositados sentimentos.
A folha em branco pode te fazer chorar, sonhar, sorrir, amar...
O que vai diferencia uma folha em branco das outras, é o que você vai fazer com ela.

- Priscila Cavalcanti

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Porta-Retrato

Eu sinto suas asas a tocarem minha pele na noite sobre o luar das estrelas, eu sinto a luz ao iluminar meu rosto toda manhã, sinto o frio do seu corpo toda a noite. Sinto uma estranha presença ao ouvir música, sinto algo tocar em minha mão ao olhar momentos presos em um porta-retrato. E por mais que eu queira, eu sei que eles não vão sair de lá. Ficaram presos, eternamente presos em uma fotografia. Preferia ter guardado todos esses momentos na minha mente, e toda vez que a solidão batesse, eu voltaria a eles e viveria tudo novamente, mas não... Mais triste ficaria ao acabarem essas lembranças, e notar que elas não vão passar da imaginação.
Preciso esquecê-las, preciso quebrar os porta-retratos da minha mente, rasgar a fotografia presa dentro deles, e queimar no mais puro fogo.
Talvez seja duro castigo fazer isso, ficarão estigmas desse fogo para sempre em minha alma. Mas o desespero bate á procura de algo para te esquecer.
Não consigo mais ficar presa em um mundo obscuro, negro, onde apenas eu tenho acesso a ele, e ainda assim esse acesso é restrito.
E no momento que cruzo com o fogo, você segura na minha mão, eu não vejo, mas eu sinto.
Não tem penas de mim? Quando o faz de conta acabar eu voltarei para o meu mundo de realidade, e você não estará lá. Anjo, por que fazes isso? Por que deixaste de ser um simples mortal assim como eu? Seria mais fácil te tocar, ouvir sua voz, falar-te palavras doces, ouvir-te, chorar ao teu lado, e ri na maior parte do tempo.
Preferistes virar um anjo.
Penso em ver-te todos os dias nas estrelas, mas no dia que chove, e o céu se cobre de nuvens negras penso ser um castigo, não tem estrela, não tem anjo, não tem vida.
E mais um dia se acaba no faz de conta, mais um dia se acaba na realidade.
Dou-te boa noite, e não tenho a certeza de sua resposta, não tenho a certeza que você escutou minha saudação.
Meras saudações rotineiras, não saem da rotina, mesmo sabendo que não fazem mais sentidos.
Os dias são noites, e as noites são mais frias.
A solidão dar medo, bela madrugada fria.
E já passou das 3 da madrugada, chove lá fora, e você ainda não resolveu sair.
Boa noite anjo. Dorme bem.
A chuva apagou o fogo que tentava destruir tuas lembranças.

- Priscila Cavalcanti.

domingo, 2 de agosto de 2009

Óculos Escuros

A magia de um ser se estabelece com uma relação no mistério, no improvável, no inesperado. Aquilo que se torna rotineiro para nós acaba se tornando simples e demasiadamente chato. Já aquilo que para nossos olhos é desconhecido, acaba por sua vez tocando o coração de alma transparente, você não vê, mas quem pode confiar em uma visão tão limitada a dos nossos olhos, que por sua vez nos mostram apenas corpos materiais, pobres olhos que se esqueceram de amadurecer, porém ao mesmo tempo transmite a alma pura de cada ser. Contradição essa não?
Às vezes colocamos os óculos escuros na tentativa de disfarce da alma, nos tornamos apenas meros observadores do material, e passamos a ser meros objetos de observação completamente sem alma.
E pergunto-me sempre, por que em tantas horas das nossas vidas preferimos colocar os óculos para disfarçar a alma? Será que a alma que habita em nosso ser é tão impura, indigna de ser mostrada? Por que em tantas situações rotineiras acabamos usando uma mascará para a alma?
É tão belo ver com o coração, que apenas simples rotinas acabam se tornando mágicas e prazerosas dádivas do cotidiano. Precisamos de muito pouco, apenas de tirar a mascará de nossa alma e deixá-la aparecer cheia de brilho, encanto, mistério... Mesmo que ela esteja ferida, ou ainda suja, será mais fácil de consertá-la, ou limpa-lá deixando-a aparecer, o sol assim terá mais facilidade de tocá-la retirar toda a tristeza, retirar as lagrimas que caíram em dia chuvosos e fazer de tudo isso um grande arco-íris contra a solidão.
Basta um simples gesto, ao sair de casa hoje, retire seus óculos e sinta o sol bater e sua alma. Pode ser que no começo sua visão reclame querendo permanecer na escuridão, mas logo ela se acostuma com a luz, por enquanto... Olhe com o coração.

- Priscila Cavalcanti.

domingo, 26 de julho de 2009

Lua crescente

E lá está ela, deslumbrante, anunciada por todos, vista por todos, iluminando mais uma noite. Tão bela ao iluminar o céu, tão bom embalo para os corações apaixonados, tão boa desculpa para os lunáticos, tão boa pesquisa para os cientistas... Tão boa companheira para os solitários, e os que restam à esperança.
De beleza espetacular, de iluminação deslumbrante, pura e sensual, despertando desejos de mais belos e profundos olhares, minha doce, e querida lua, que por mais bela que pareça não esconde seu ar de solidão.
A noite escura contrasta com seu belo corpo, e mostra o vazio que penetra em sua alma, tenta mudar e se mostra nova, tenta esconder e se mostra minguante, tenta disfarçar e se mostra cheia... Tenta ser melhor e se torna crescente.
Despertando em nós, meros admiradores, as meras crianças, é o que somos nós perto de tanta beleza, de tanto encanto, mostrado por ela.
Tento decifrar o que diz sua imagem, tento decodificar o que diz sua alma, tento entender a mensagem pura e sincera que ela traz.
E se ela um dia chegasse a falar com palavras, tenho certeza que não pedia nada além de um amigo, de um ser, de uma segurança que estivesse junto a ela iluminando a noite dos apaixonados, dos admiradores, dos lunáticos, ou até mesmo dos solitários, que nem ela.
E partir daí o sentimento era diferente, em sua alma pura, ficaria a mostra o sentimento da felicidade, não precisaria mais disfarçar, sempre queria ser a melhor, ela estava crescendo, crescente... Sempre!
E nós olhamos para ela e dizemos: que bela noite, que bela lua!
E ela nos reponde com um singelo sorriso de gratidão apertado por uma face marcada pela tristeza. Se a felicidade é tão bela, por que buscamos seres tristes para representar momentos reflexivos?
São duvidas, duvidas, parece que a tristeza leva a uma indagação constante em relação ao nosso verdadeiro papel aqui neste mundo.
E nos fingimos de cegos diante das perguntas, e achamos que perguntas como essas são para fracos, derrotados, amargurados, fechamos os olhos, decidimos não ver o que está em nossa frente escrito em letra grande no roteiro da vida.
E continuamos a levar nossa vida, sempre sentindo falta de algo, que a todo custo tentamos recompensar com pessoas, objetos, dinheiro... E não sabemos na verdade o que falta, é mais fácil não saber, é mais fácil negar, é mais fácil deixar.
E ela continua lá, sabendo o que realmente faz falta, e ela prefere não saber, negar, e apenas iluminar mais uma noite de lua crescente.

- Priscila Cavalcanti;

sábado, 25 de julho de 2009

Desejos

Inocência é palavra doce descrita em lábios de mel fervendo de devoção ao certo, direito. O olhar descreve traços, o sorriso demonstra a face, e o medo descreve a dor.
Você pode enganar com um sorriso, mas não esconderá sua alma através dos seus olhos.
Eles vão te guiar para a mais profunda revelação da sua mente, do seu coração, e a pureza é demonstrada no olhar, e a insegurança vem logo depois do breve sorriso mostrando lábios esticados ao mostrar algo que não conseguimos ver, é uma cena contraditória, enquanto a boca demonstra o pecado, os olhos mostram a inocência e a beleza da pureza, e quanto mais contraditória mais instigante, menos sóbrios ficamos nós ao olhar aquele rosto, droga para alma. Embevecida com adjetivos, notada com a mente. E quando mais o olhar vai de encontro ao outro, mais isso te consume, e você chega a perder a razão, meros devaneios em torno de seus pensamentos, você quer aquilo, você quer consumir aquilo, ferve dentro do seu corpo, o desejo.
Em segundos os olhares mudam as direções, a face contraditória não está mais em sua frente, a razão aparece, e você toma um choque com ela, como se tivesse acordado pela manhã de um sonho emocionante, mais perigoso, e isso fazia ficar bom.
Quanto mais contraditórios, mais perigosos, mais viciosos se tornam os pensamentos, olhares e faces, mais é aumentado o desejo, que acaba por esgotar todas as suas forças, te leva ao abismo em segundos, te derruba, e some.

- Priscila Cavalcanti.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Anúncio de jornal.

E quem não iria admirar uma bela rosa pintada de vermelho vestida de sonhos? Quem não iria contemplar um belo crepúsculo vestido de magia e encanto, quem não iria observar a chuva caindo em pequenas gotas enchendo os olhos, lavando as ruas, lavando as almas. Deixo aqui o entendimento completo desses prazeres para os solitários, não precisa entender a solidão, basta sentir. Entender eu deixo para aqueles que passam horas escrevendo sobre ela para tentar juntar poucas palavras na expectativa de fazer uma frase com sentido.
Questiono a Deus, qual será o destino dos sentimentais e dos solitários, pois confesso entre linhas que o sentimento deixou de ter espaço em nosso mundo. Não vou me surpreender quando ler em um jornal, um anuncio encontrado no canto esquerdo da folha, pequeno, discreto e com singela mensagem: “Busco conhecer um amigo, não tenho dinheiro, nem fama, não tenho nada material a oferecer, tenho problemas para dividir, tenho angustias, tenho medo, tenho solidão, tenho uma mente perturbada em busca de ajuda, não sou um bom comerciante, pois ofereço o meu produto (a minha amizade) sendo o mais realista possível, e sei que realidade não entrará nesse mundo de persuasão, contudo, tenho fé. ’’

Ficarei muito surpresa se daqui a cinco semanas ao abrir o mesmo jornal, no mesmo local no canto esquerdo, pequeno, discreto, esteja uma simples resposta ao anúncio publicado há algum tempo, e ele estaria assim: “Oi, li seu anúncio, tive medo de tomar coragem antes de responder, mas mesmo com uma coragem cheia de medo, estou aqui, respondendo a sua singela promoção, com singela resposta.
Se você não tem dinheiro, fama, ou algo material, nada disso me preocupa, o que realmente me preocupa é se você aceitará dividir comigo sua tristeza, angustia, medo, solidão... Ou qualquer sentimento obscuro que esteja no seu coração, se você aceitar, ficarei feliz porque no momento em que você dividir comigo esses sentimentos, sobrará mais espaço no seu coração para a felicidade, e daqui a algum tempo... Cinco semanas quem sabe, de uma verdadeira amizade, eu estarei dividindo com você além do medo, solidão, (que estarão bem retraídos agora.) a alegria, e a felicidade.
Confesso que queria muito sentir felicidade, mas ela só terá valor de verdade se for dividida com alguém, e tenho certeza que você é a pessoa certa.
Como eu tenho essa certeza?
A, meu caro amigo, são poucas as pessoas hoje em dia, que fazem uso da verdade para procurar amigos, outros mentem, outros preferem procurar dinheiro.
Serei breve agora, pois no jornal eles não dão muito espaço para fatos como esse, eles preferem mostrar em 1° página quem morreu noite passada, quem fez a festa mais bonita, ou que político rouba mais.
Já que tive esse espaço, agradeço a editora do jornal, e prometo procurar-te o mais breve possível, não esperarei mais cinco semanas para começar uma amizade.
Foi um prazer te conhecer, agora o medo já acabou um pouco.
Continue a ter fé. ’’

Eu confesso queridos leitores, que esses amigos seriam bem felizes. Mas quem sabe, ao ler um jornal não encontro algo parecido, além de anúncios de morte misturados com anúncios de carros...

Tenho fé!

-Priscila Cavalcanti.

domingo, 12 de julho de 2009

Presentes.

À noite me pego pensando no que fazer no outro dia que vou ganhar de presente, se for ganhar mesmo na verdade... Será que ganhamos o dia? Se ganharmos é um presente, presentes sempre são bons e bem vindos... Porém não em grande parte estou certa. Mas se eu começar a falar agora naqueles presentes que ninguém quer receber? Existem presentes que são repetitivos, enjoamos deles e não damos o valor merecido. Existem presentes humildes, simples, damos obrigada e colocamos um sorriso no rosto falso, falso... Quando chegamos ao quarto, ou até mesmo no carro, o jogamos dentro do guarda-roupa ou no banco traseiro como se fosse qualquer coisa que recebemos por obrigação de ter que aceitar, lá no fundo está pensando: O que eu vou fazer com isso? Existem presentes que aparecem em horas inoportunas, como aquele velho conjunto de pano de prato que você ganhou no dia das mães... Poxa, o presente é pra mim, e não pra casa... Diz: Obrigada! E dar um beijo seco, e frio no seu filho... Contudo existem presentes que adoramos receber, presentes únicos, presentes caros, e você chega a pensar: se recebo um presente caro assim, é porque pra alguém eu valho muito, sou única pra alguém... Por um minuto mesmo que sua moral, e bom censo descarte essa hipótese, de alguma forma você se compara com o dinheiro, e associa dinheiro com valores. Você não quer acreditar, é bem mais simples fechar os olhos, você se sente mais leve quando não enxerga o que está na sua frente. É bem mais fácil gostar daquele presente mais bonito, mais caro, mais prazeroso.
Tem dias que me pego pensando, por que hoje vivo sozinho? Por que não tenho mais amigos? Por que minha vida passou e eu nem percebi? Minha vida foi uma desgraça, por que eu vim ao mundo pra sofrer tanto assim? É algum castigo de um pecado que cometi na outra vida? Penso, penso, penso... Hoje comparei esses presentes aos dias da minha vida, se eu tivesse aproveitado minha rotina, e tivesse pensado nela como uma coisa boa, uma nova chance de fazer a mesma coisa do dia anterior, mas dessa vez acertar... Se eu tivesse dado valor á dias simples, eles são o que mais você vai lembrar no futuro, se eu tivesse parado no meio daquele turbilhão de idéias olhado para o céu, e ter escrito o que sentia naquele momento, hoje pegaria minhas anotações e lembraria sentimentos antigos. Se eu tivesse dado mais importância a minha vida, hoje teria mais amigos, ao invés de colegas. Hoje eu teria uma companhia, hoje eu teria um livro da minha vida, me arrependo? Sim! Do que eu poderia ter feito, e não fiz... Arrependimento não basta, é pouco é como perceber que algo está errado e ficar calado pasmo na frente do problema, eu me arrependo e estou tentando mudar. Hoje escrevi o que estou pensando, será que vou ler algum dia? Se isso fosse há dois anos atrás eu diria que não, acharia que antes de ler isso eu já estaria morto... Mas eu disse SE, veja bem... Hoje eu digo: SIM, eu irei ler isso futuramente, espero longos, simples, e repetitivos presentes.

- Priscila Cavalcanti