sábado, 29 de agosto de 2009

Perfuração

A certeza do nunca é o que mais que incomoda, ela fica cravada em meu peito e me impede de manter-me em pé, continuo sangrado nas esquinas, nos bares, nos livros, nos filmes... Tudo faz lembrar você.
Uma estaca perfurando o meu coração, sinto que a cada dia perco mais as forças sinto-me caindo sobre um abismo onde nunca saberei se foi lá que você caiu também.
E por mais que o tempo passe, e a pele queira expulsar a estaca cravada em meu peito, e cicatrizar o local , mais parece que ela não quer sair. Eu tento puxa - lá com minhas duas mãos, mais a dor é mais forte quando tento arranca – lá.
Não se compara ao pior veneno, não se compara ao maior medo, a dor de ter algo que pode te matar aos poucos entrelaçada em sua pele, em sua alma é muito forte.
Ela prefere matar lentamente, assim como você se foi. Encontro sempre com o seu olhar preso em uma fotografia, isso faz a estaca perfurar outro vazo sanguíneo no meu coração, se torna algo que a medicina não pode explicar, só os que passam ou passaram pelo que eu estou sentindo agora sabem na verdade o sentindo da palavra dor, e não apenas o seu conceito.
Você se foi tão cedo, eu tive medo de dizer adeus, e agora? Meu coração é esmagado pelas mãos da incerteza, a palavra ‘nunca’ ecoa em minha mente, parece que ela sabe dos meus pensamentos... E se ela souber? Que privacidade vou ter para pensar em ti sem que ninguém saiba?
O sol nunca se mostrou depois de tua partida, o tempo frio já consumiu todo o meu calor, e acaba se tornando impossível manter a temperatura normal do meu corpo, ela vai ficar em equilíbrio emocional com o ambiente externo, e te garanto que lá é muito mais escuro e frio do que aquele poço que nós caímos algumas vezes.
A morte é tão contraditória, é tão fácil morrer o corpo, e tão doloroso e complicado morrer a alma.
Sinto-me tão sozinha agora, onde você está? A estaca ousa a penetrar mais em meu coração, em poucos minutos eu estarei provando da sensação mais obscura que muitos preferem nunca provar. Digo minhas ultimas palavras, elas sussurram o seu nome, fecho os meus olhos, espero...

- Priscila Cavalcanti.

domingo, 16 de agosto de 2009

A complexidade do amor

E ela foi novamente atrás do seu sonho, e qual era? Qual o sonho de uma simples garota, vivendo uma simples vida, de uma simples família, amando um simples rapaz? Ter apenas uma simples felicidade.
Ao chegar lá, não foi o esperado, o simples era pouco, e o muito era impossível. A vida era muita, complexa, complicada, a felicidade estava repleta de prazeres até aquele instante por ela desconhecidos.
E ao ver sua pouca pessoa, em meio de muita gente, se sentiu logo retraída e confusa. O seu prazer era apenas cultivar o sol e lua com olhares entrelaçados de sonho, paixão, medo, e felicidade, mesmo que simples, mas ela tinha desejo de felicidade.
Os prazeres agora eram complexos e impossíveis ao ponto de ela juntar todos os seus poucos na esperança de um muito, e essa tentativa ser totalmente fracassada, vendo ao ponto que a simplicidade nunca entrara naquele mundo de muitos, mas que na verdade está repleto de poucos. Pouca gente, pouca esperança, pouco sonho, pouca vida, pouco sol, pouca lua, pouca felicidade, mas por sua vez estava repleto de muito, muito dinheiro, muito prazer, muito luxo, AA que pena não posso continuar errando tanto esse gênero assim.
Ela foi, andou, vagou, verbalizou, cantou, disse ao mundo o porquê de está ali, ninguém a escutou.
Então ela voltou sozinha pra o seu mundo de pouco, mas que na verdade para ela a simplicidade era tão complexa que se tornava fácil, e se resumia em apenas simples e poucos verbos: AMAR, SONHAR, LUTAR, AMAR!
O amor por mais complexo e simples que seja, acaba se tornando o mais simples substantivo, e o mais complexo verbo para se conjugar. Ela aprendeu a usar a complexidade na simplicidade, a resposta foi simples, complexa e imediata: FELICIDADE!

- Priscila Cavalcanti.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Dia branco

Ao encontrar uma folha de papel em branco, me sinto uma criança, com a cabeça cheia de idéias, o destino daquela folha está em minhas mãos... Isso pode parece tolice para alguns, mas para mim não. Não é apenas uma simples folha, mas sim o objeto que farei uso para despejar em limitado espaço um pouco do que se passa em minha mente.
E logo vem a primeira duvida: “o que eu devo fazer?” Um desenho talvez... Adoro desenhar dias de sol e castelos, aprendi um dia na escola e nunca mais esqueci.
Mas penso de novo, e lembro os inúmeros castelos e dias ensolarados que tenho guardados em minha gaveta, foi esse o destino que dei para algumas folhas, elas não são admiradas por ninguém, nem são de tamanha beleza como as obras de Michelangelo, porém noto que elas são felizes, preenchi todo o espaço que elas tinham com amor, verdade, inocência, e amor mais uma vez... Amor nunca pode faltar ao escolher o grandioso destino de uma folha... Isso basta!
Tudo começa em uma folha em branco, a construção de um grande prédio, os belíssimos textos de inúmeros autores, os roteiros de filme, um ‘eu te amo’ de um filho para um mãe quando aprende a escrever, uma carta de alguém que mora longe e deseja amenizar a saudade da outra pessoa que a espera... A, são tantas as coisas das mais simples as mais complexas.
Uma folha de papel com o destino certo pode levar uma pessoa a diferentes lugares do mundo e da mente, pode ferir sentimentos, exaltar o amor, tocar o coração, se tornar uma canção, trazer sorrisos, lagrimas, esperanças... Que poder magnífico tem uma folha de papel...
Tem gente que a procura já tendo em mente o que vai fazer, tem gente que a encontra e daí decidi o que vai fazer, tem gente joga no lixo e perde a oportunidade de entender um pouco sua mente, seus pensamentos. E como se não bastasse ainda dizem a frase: ‘não tenho tempo para uma simples folha de papel em branco. ’ Não ter tempo para si é algo meio contraditório.
Hoje eu escolhi uma simples folha em branco, não queria uma folha perfeita, pois teria medo de errar... Então ela continuaria em branco, pois não teria coragem de cometer erros em uma folha perfeita.
Já em uma folha em branco mais simples, não teria medo de borrá-la, pois quando isso acontecesse lembraria da borracha esquecida em cima da mesa, apagaria tudo que não me fizesse bem, mesmo que ainda ficasse borrões eu saberia que foram eles quem me ajudaram a tornar o destino da folha mais bonito.
E um dia eu acabei descobrindo que eu poderia fazer a mesma coisa que eu faço com as folhas em branco em dias da minha vida.
Cada dia está pronto para ser desenhado do jeito que você quiser. Você tem um dia limpo, em branco, e cabe a você escolher o que fazer com ele. Pense bem, antes de escolher o destino de cada dia, você pode apagar aquilo que não te faz bem, aproveitar a folha e começar de novo.
Não jogue o dia fora fazendo aquilo que não te satisfaz, que não faz de você uma pessoa melhor.
São inúmeras as semelhanças entre o papel rabiscado com letras tortas, escrito um ‘eu te amo’, e o mais belo poema de Shakespeare . Todos eles começaram em uma simples folha de papel, e neles foram depositados sentimentos.
A folha em branco pode te fazer chorar, sonhar, sorrir, amar...
O que vai diferencia uma folha em branco das outras, é o que você vai fazer com ela.

- Priscila Cavalcanti

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Porta-Retrato

Eu sinto suas asas a tocarem minha pele na noite sobre o luar das estrelas, eu sinto a luz ao iluminar meu rosto toda manhã, sinto o frio do seu corpo toda a noite. Sinto uma estranha presença ao ouvir música, sinto algo tocar em minha mão ao olhar momentos presos em um porta-retrato. E por mais que eu queira, eu sei que eles não vão sair de lá. Ficaram presos, eternamente presos em uma fotografia. Preferia ter guardado todos esses momentos na minha mente, e toda vez que a solidão batesse, eu voltaria a eles e viveria tudo novamente, mas não... Mais triste ficaria ao acabarem essas lembranças, e notar que elas não vão passar da imaginação.
Preciso esquecê-las, preciso quebrar os porta-retratos da minha mente, rasgar a fotografia presa dentro deles, e queimar no mais puro fogo.
Talvez seja duro castigo fazer isso, ficarão estigmas desse fogo para sempre em minha alma. Mas o desespero bate á procura de algo para te esquecer.
Não consigo mais ficar presa em um mundo obscuro, negro, onde apenas eu tenho acesso a ele, e ainda assim esse acesso é restrito.
E no momento que cruzo com o fogo, você segura na minha mão, eu não vejo, mas eu sinto.
Não tem penas de mim? Quando o faz de conta acabar eu voltarei para o meu mundo de realidade, e você não estará lá. Anjo, por que fazes isso? Por que deixaste de ser um simples mortal assim como eu? Seria mais fácil te tocar, ouvir sua voz, falar-te palavras doces, ouvir-te, chorar ao teu lado, e ri na maior parte do tempo.
Preferistes virar um anjo.
Penso em ver-te todos os dias nas estrelas, mas no dia que chove, e o céu se cobre de nuvens negras penso ser um castigo, não tem estrela, não tem anjo, não tem vida.
E mais um dia se acaba no faz de conta, mais um dia se acaba na realidade.
Dou-te boa noite, e não tenho a certeza de sua resposta, não tenho a certeza que você escutou minha saudação.
Meras saudações rotineiras, não saem da rotina, mesmo sabendo que não fazem mais sentidos.
Os dias são noites, e as noites são mais frias.
A solidão dar medo, bela madrugada fria.
E já passou das 3 da madrugada, chove lá fora, e você ainda não resolveu sair.
Boa noite anjo. Dorme bem.
A chuva apagou o fogo que tentava destruir tuas lembranças.

- Priscila Cavalcanti.

domingo, 2 de agosto de 2009

Óculos Escuros

A magia de um ser se estabelece com uma relação no mistério, no improvável, no inesperado. Aquilo que se torna rotineiro para nós acaba se tornando simples e demasiadamente chato. Já aquilo que para nossos olhos é desconhecido, acaba por sua vez tocando o coração de alma transparente, você não vê, mas quem pode confiar em uma visão tão limitada a dos nossos olhos, que por sua vez nos mostram apenas corpos materiais, pobres olhos que se esqueceram de amadurecer, porém ao mesmo tempo transmite a alma pura de cada ser. Contradição essa não?
Às vezes colocamos os óculos escuros na tentativa de disfarce da alma, nos tornamos apenas meros observadores do material, e passamos a ser meros objetos de observação completamente sem alma.
E pergunto-me sempre, por que em tantas horas das nossas vidas preferimos colocar os óculos para disfarçar a alma? Será que a alma que habita em nosso ser é tão impura, indigna de ser mostrada? Por que em tantas situações rotineiras acabamos usando uma mascará para a alma?
É tão belo ver com o coração, que apenas simples rotinas acabam se tornando mágicas e prazerosas dádivas do cotidiano. Precisamos de muito pouco, apenas de tirar a mascará de nossa alma e deixá-la aparecer cheia de brilho, encanto, mistério... Mesmo que ela esteja ferida, ou ainda suja, será mais fácil de consertá-la, ou limpa-lá deixando-a aparecer, o sol assim terá mais facilidade de tocá-la retirar toda a tristeza, retirar as lagrimas que caíram em dia chuvosos e fazer de tudo isso um grande arco-íris contra a solidão.
Basta um simples gesto, ao sair de casa hoje, retire seus óculos e sinta o sol bater e sua alma. Pode ser que no começo sua visão reclame querendo permanecer na escuridão, mas logo ela se acostuma com a luz, por enquanto... Olhe com o coração.

- Priscila Cavalcanti.