quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Rosário


Teu rosto ateu cheio de fé, meus olhos deístas.
Teu olhar cético como o redentor.
Teu pé entrelaçado em meu pé,
Nosso arpoador escondendo-se nos lençóis.

Teu suor escorrendo em meus seios,
Teus dedos entre meus cabelos,
Teu desejo tão fugaz,
Meu ensejo de em teus olhos encontrar paz.

Teu corpo era Deus,
Meu templo abria-se para tua chegada.
Minha boca gritava que era tua,
Era tua e apenas tua,
Nua como o templo que derrubastes,
Como o arpoador que desfizestes,
Meus olhos, então, pagãos. 

Líquida


Minh'alma de chagas escorre entre teus dedos,
Dedilhando as notas,
Afagando o peito, esquecimento.

Minh'alma escorre entre notas e dedos,
Minha' alma sem jeito,
Denota todos os movimentos
Minh'alma com medo
Sofre o ausente acalento.

Minh'alma implora
Pelos dedos teus,
Minh'alma chora a canção do adeus.
Minh'alma que é tua. 

sábado, 14 de abril de 2012

Carrancudo

E dizem que a vida é arte dos encontros. Dizer que não quero encontrar é subtrai-la? Que a esmaguem, que esmaguem a pós-modernidade. Idade, que os anos os leve, e levem consigo essas trivialidades que encontro na estrada. Um estranho estrangeiro pervertido por mesmices, babaquices... Quem dirá Clarice, com suas impostoras frases de cartão postal.
Não acredito que toda mudança carregue consigo um bom espírito, apesar de bom e mau ser tão relativo... Posso ser o pacote deixado fora da linha, perdido. O trem segue com as copias, com as copias, com as copias, com as copias... Eu sou o pacote deixado em uma estação. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Use Somebody

Mesmo que doa, a verdade; Mesmo que mate, a verdade; Mesmo que acabe, a verdade.
Mesmo que as ilusões viciem.
Dependendo do sol, de mim e só. Só aquele cobertor fino que te aqueceu friamente enquanto a lenha acabou, o fogo apagou.
Que prazer mais egoísta de ocupar todos os lugares de um ser, só pra esquecer, só pra satisfazer.
A noite não perdoará, a ferida demorará a sarar, mas um dia passa, tudo passa, mas a verdade sempre será eterna, mesmo que escondida dentro daquelas noites.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Conversas de fim da tarde

Por que foges assim tão depressa? Não sabe que a pressa, se apressa pra não nos permitir?
Por que te castigas? O castigo é conversa dos deuses, são as grades invisíveis para nos reprimir.
Então tu me perguntas, em um gozo de vontade de me corrigir:
- E por que amas assim? Não sabe que esse velho e bobo amor, um dia te fará cair?
E eu te respondo: Não preciso fugir, o castigo não há de vir. Porque só quem vive e acredita no amor, sabe que por mais que ele te faça cair, por mais que ele te faça sofrer, ainda é amor. E eu prefiro cair por amor, do que as grades para me proteger. Permitir-se cair, já é amor, o amor é liberdade.