domingo, 5 de dezembro de 2010

Era uma vez


Era um moleque...
Roubava, comprava, lutava, sorria...
Pedir pão na porta da padaria,
Diversão do dia.

Era um moleque...
A rua dizia:
“Corra logo ou chamo a polícia”
E ele corria,
Afinal... Era moleque.

Sofria, pois pão não tinha,
A mãe nem sempre sadia,
Lutava em cima da cama,
Contra a miséria,
Na lama.

O pai sumiu na vida,
Nem o nome,
Da boca saia,
Nem a imagem
A retina lembrava,
Mas era o pai do moleque,
Na boca orgulhada.

Pivete, malandro,
Como todo brasileiro
Que não é santo,
O moleque lutava pra viver.
Se era justo ou não,
Não tinha como ele saber.

O moleque não sabia,
Escutava todo dia,
Só o povo falar,
Mais malandra é a vida,
Um dia ela vai te ensinar.

E o que a boca não diga,
Não se faça verdade,
Na realidade,
Era um pedaço de comida,
Com um pedaço de verdade.

Era um moleque,
Que como milhões de outros moleques
Virou a esquina
Que como milhões de outros moleques
Sofreu bala perdida,
Que como milhões de outros moloque
Morreu a míngua,
Na língua da miséria.

O povo olha e continua a vida,
Afinal... Ah, é o moleque!

Na calçada fica
O resto de comida,
Que era pra sua mãe.
Misturada com o corpo,
Chega o socorro,
E os cães.

Era pivete,
Era um brasileiro em luta pela vida,
Era moleque,
Era o retrato pintado da nação perdida.

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